BAIXADA SANTISTA: A RESIDÊNCIA DOS LOUCOS PELO FUNK 

Baixada Santista

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Falar de Baixada Santista é falar sobre tendência, pioneirismo e referências. Na região onde se localiza a maior favela do país, as periferias se transformam em ditadoras de ícones do audiovisual e música em suas infinitas possibilidades. 

Se você é entusiasta do funk, com certeza conhece os nomes Felipe Boladão, MC Careca, MC Duda do Marapé e outros grandes artistas do consciente. Contudo, esse não é um texto sobre o passado, e, sim, sobre o presente. O que todas essas referências deixaram para a cena atual da Baixada Santista?


‘Residência dos Loucos

Felipe Boladão – Arquivo pessoal


Na emblemática frase “Moro na Zona Noroeste, onde reside só os ‘louco’”, Felipe Boladão soprava o ‘patriotismo’ que vive dentro de quem é da região. Ele afirma que, na Baixada, existe só sorriso – apesar do sufoco. 

A princípio, as letras carregadas de vivências tiradas de bairros e caminhos das cidades da Baixada e ritmos que se tornaram muito característicos do consciente da Baixada Santista, se transformam em bagagens ao futuro de uma geração revolucionária. 


Residência dos Loucos


A mesma frase aparece na faixa ‘Corre’, de Augusto Pakko, morador de Santos (confira o artista mais abaixo), onde se mostra com uma faceta atual e revestida de certa fúria por tudo que corpos pretos sofrem em uma cidade que, por inúmeras razões, se tornou elitizada. 

Se em ‘Residência dos Loucos’ o cenário da Baixada era de sorrisos, honra e reverência apesar da dor, por outro lado em ‘Corre!’ visitamos um lugar de resistência, força e desejo de revolução e justiça. 


Augusto Pakko – Corra


“Trabalho com rap, mas funk é minha referência” 

O rapper Augusto Pakko é cria da Zona Noroeste, em Santos, e, além de músico, é empresário e modelo. Em seus shows, há sempre um momento para reverenciar e cantar músicas de MCs citados nesse texto. Apesar de não ser um artista especificamente do funk, é nítida a base musical do gênero nas sonoridades de Pakko.

Cresci escutando Felipe Boladão, Neguinho do Caxeta… Eles vêm como uma base, me lembram de onde eu venho e quem eu sou. Os caras conscientes das antigas já cantavam o que a gente passa hoje”, disse Augusto, em entrevista ao Gramofone Ativo. 


Augusto Pakko – Crédito: Henrique Cabral

Para o rapper, as letras cantadas anos atrás pelos MCs refletem até hoje sobre o cotidiano de corpos periféricos. Sendo assim, ele afirma que, mesmo em proporções e formatos diferentes, pessoas das quebradas continuam vivendo o que está escrito nas letras dos artistas.

A criminalidade continua sendo rótulo de pessoas oriundas dessas regiões, mesmo o acesso à informação, principalmente sobre o contexto racial, sendo diferente e mais amplo nessa geração. Nas palavras de Pakko, ‘preto, pobre e favelado ainda é sempre visto como suspeito’. 


“Valorizar quem pavimentou a estrada que hoje a gente pisa”

Ser de uma geração que está inserida em outros conceitos de sonoridade reforça a necessidade de se conectar com raízes e fundamentos da música que veio antes. É bem comum ver artistas da nova cena citando MCs da antiga época – tanto nas músicas, quanto na carreira em si.

A nova geração tem que valorizar quem pavimentou a estrada que hoje a gente pisa. É um conceito preto; valorizar a ancestralidade. Então, quem fazia esse mesmo corre que você faz hoje? É questão de base, tá ligado? Foram essas pessoas que abriram o acesso. A molecada tem que conhecer e cantar esses artistas, nunca deixar cair no esquecimento”.


Baixada Santista, estética e carreira

A princípio, o consciente nasceu e se popularizou na Baixada Santista. Isso é um fato. Mas, para além do estilo, a estética também veio junto. Se pegarmos um vídeo de algum show de funk dos anos 2000, percebemos um estilo de se vestir muito específico. 

Marcas como Town & Country apareciam como itens de representação de identidade. “Quando eu penso em Baixada, eu penso em funk, chinelo da Sthill, Cyclone, Quicksilver”, aponta Pakko. 

Por fim, o artista finaliza afirmando que corre atrás de honrar todas as suas referências em sua carreira. “Quero proporcionar uma melhoria para minha área, quero que todo esse veneno seja transformado em vitória”, encerra. 

E você? Tem algum artista da Baixada que admira? Conta pra gente em nossas redes: @Gramofoneativo

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