Direto das ruas de Salvador, Vandal de Verdade é dono de uma das vozes mais potentes do Grime e do Drill no Brasil. O que o diferencia é sua levada que não se assemelha aos demais rappers e trappers que vem viajando entre os ritmos londrinos. Muito pelo contrário, suas experiências musicais o levam a ser um músico e rapper muito versátil entre os ritmos que guiam seu trabalho, e com uma autenticidade invejável.
O Grime é um ritmo que surgiu nas periferias de Londres, mas especificamente, nas ruas de Bow e nas comunidades jamaicanas durante os anos 2000. E é um subgênero do rap, que pode ser considero um trap pós-moderno. O Grime traz influências do Drum&Bass, jungle e ragg, ele é marcado por uma instrumentalização eletrônica e mais acelerada que o trap. As faixas, num geral, contam com um BPM de 140 e 8 versos por compasso, metade dos tradicionais 16 do rap. Ao chegar no Brasil, o estilo recebeu forte influência do funk e ficou conhecido como Brime.
Já o Drill, surgiu em Chicago e ganhou o mainstream em 2012, no entanto, há quem diga que esse ritmo não faz parte da árvore do hip hop. O drill traz uma estética mais sombria e violenta, influenciando muito nos figurinos dos artistas e na moda, usando mais peças esportivas do que o estilo ostensivo do trap. No Brasil, esse ritmo seguiu a estrutura mais violenta e explícita, com clipes com muitas armas sendo exibidas.
Movido pela ânsia de contar os detalhes de sua história, a sua maneira, Vandal emplacou sucessos como Balah ih Fogoh, com participação de Djonga e BaianaSystem na versão remix, lançada em 2021, Novah Salvadorh, de 2018 e outros muitos raps tão pessoais e viscerais de sua carreira. Em 2007 em parceria com Russo Passapusso, o soteropolitano lançou a Mixtape Fayaka Steppaz, que pioneiramente trouxe as estéticas do Grime para a cena brasileira. Em sua faixa 40L, podemos observá-lo usando um sample de Chief Keef, que traz muito dessa estética em suas canções.
A princípio, foi nas festas de Largo e no pagode baiano que Vandal começou seu processo artístico. Escrevendo pagodes falando das coisas que o rodeavam, e suas vivências na Cidade Nova, em Salvador. A rica musicalidade de Vandal possui influências que vão dos clássicos da MPB de Gal Costa aos pagodes de Parangolé. E é até mesmo como o rapper define sua forma de rimar, incorporando uma forma de rimar muito mais ligada ao pagode do que as letras de rap.
Seu contato com a cena londrina do rap e da estética de produção musical teve início por meio das revistas, que vinham da empresa de turismo que sua mãe trabalhava, assim como, foi influenciado pela cena do grafite na Europa. Admirando e consumindo os grafites que eram estampados nos trens e nesse “vandalismo” político e cultural, Vandal adotou seu nome artístico. Pode se dizer que esse nome combina muito com a personalidade do rapper e sua estética de trabalho.
Sua estética de rima é cadenciado, porém, é um grito de liberdade, inspirado em Fatal de Gal Costa. Outra característica muito presente em seu trabalho é nomear suas músicas com o uso de muitas consoantes, principalmente o H ao final das palavras. Nos palcos, Vandal agita o público e é agressivo nas medidas certas. Com uma presença de palco é enervante, assim como, seus figurinos são um retrato muito pessoais do Grime.
Suas letras são protestos, e podemos enxergá-lo como um poeta musical. Sua principal missão não é alcançar o mainstream, mas é incomodar os “alemães” ou o sistema que oprimem as populações pretas e periféricas a tanto tempo. Ele reforça sua luta contra o uso da favela como palanque, mas nunca valorizando o que a favela pode fazer e faz. Vandal personifica essa luta em todas as suas rimas e demonstra suas críticas a cena do rap em se aproveitar de uma vivência não vivida.
Ele é um real acontecimento na cena, isso por suas letras e produções serem extremamente pessoais e conectar com muitos que vem de uma mesma realidade. Mas não só isso, suas faixas são singulares e se separam do que vemos na cena atual do rap. Vandal poderia ser considerado um “Black Messiah” do nordeste nos dias atuais.