DE CÉSAR A CRISTO: A NARRATIVA SENSÍVEL DE ZUDIZILLA

Zudizilla

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Com um curta-metragem musical, Zudizilla traz sentimentos do amor a angústias com uma reflexão de suas experiências

Lançado em 28 de abril, Zudizilla fecha com chave de ouro a era de seu disco Zulu Vol. 2: De César a Cristo com o lançamento de um curta-metragem de mesmo título, dirigido por Marcelo Alves e Diogo Comum. Esse trabalho, assim como Vozes do Silêncio, dá abertura para a parte final do manifesto do artista pelotense, intitulado Zulu Vol. 3: quarta parede, que será lançado ainda em 2023.

Fonte: Divulgação


Estrelado por Zudizilla e Luedji Luna, o trabalho traz uma forte referência do filme Malcom & Marie (2021), Zudizilla traz uma estética preto e branco e cliques conceituais que ajudam a amarrar e construir a narrativa, além disso, trazem um toque de dramaticidade e intensidade necessários para a história. Com esse trabalho audiovisual conseguimos esclarecer ainda mais os sentimentos e reflexões que o rapper trouxe em seu álbum manifesto.

A cada momento do curta vemos Zudizilla duelando com seu alter-ego Zulu, passando por emoções intensas. Em momentos vemos sua raiva e impotência e todas as cobranças de ser um homem negro em uma sociedade racista, bem como, sua incapacidade de aceitar a realidade como ela é. Reflexões que vieram muito forte no segundo álbum de sua trilogia, vemos como a questão pandêmica o atinge ao não se sentir capaz de proteger aqueles que ama, assim como sua ânsia por uma vontade de conquistar seu lugar no mundo. Tudo para agora, sem tempo ou paciência para seguir lutando.

Durante o curta, podemos acompanhar o quanto esses embates internos se refletem na relação do personagem Zulu e de Zudizilla. Por momentos, é claro ver quando estamos assistindo a Zudizilla e quando ele está representando seu alter-ego. 

Fonte: Divulgação


E assim como Malcolm & Marie, vemos uma dança entre a tensão e amor entre o casal narrado. A frustração sentida por Zulu perpassa em olhares e ações que são mostradas ao início do filme, e essas mudanças de humor repentinas e duras, alimentam o fogo de tensão entre o casal. Sua companheira quer apenas ter um momento de relaxamento, enquanto Zulu está lidando com sua onda de pensamentos e pequenas assombrações mentais. E o que o rapper traz, é que nenhum dos lados está errado, eles estão apenas tentando viver e seguir em paz, cada um a seu modo.

O que podemos observar no filme De César a Cristo é um ciclo de afastamento à reconciliação. Nesse fechamento de ciclo o que vemos, é uma aceitação temporária dos problemas, no entanto, há um toque inconformidade e pressa pela mudança. É perceptível que o personagem Zulu e Zudizilla só buscam paz de espírito e em sua mente, para lidar com seus problemas, frustrações e inseguranças de maneira menos autodestrutiva.

Apesar do álbum Zulu Vol. 2: De César a Cristo ser uma obra que trata de como as relações de poder influenciam na existência de pessoas pretas, em especial, retintas, nesse curta-metragem essa não é linha central da narrativa, mas sim, o quanto essas vivências influenciam na maneira de relacionar com outras pessoas, seja romanticamente ou fraternalmente. 

Com certeza, é uma peça complementar ao quebra-cabeça que o rapper de Pelotas vem construindo. E como ele mesmo já explicou, o fim da trilogia é focado em trazer uma reivindicação para que pessoas pretas também possam lidar com problemas ordinários da vida. Enquanto o capítulo final não sai, vamos interpretando o quebra-cabeça de Zulu à nossa maneira.

Assista a produção audiovisual De César a Cristo:

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