Com uma escrita madura e poética, Rico nos mostra uma nova perspectiva sobre o amor.
Que Rico Dalasam é um poeta não há discussão, seus trabalhos nos atravessam em níveis profundos e, até mesmo, muito pessoais. Desde DDGA fomos levados a um caminho de descoberta, encontros e desencontros de Rico com o afeto, mas Escuro Brilhante nos dá uma nova visão sobre esse sentimento tão desejado que é o amor.
Lançado oficialmente em 14 de dezembro, “Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga” encerra a trilogia, que inclui “Dolores Dala Guardião do Alívio” (2021) e o EP “Fim das Tentativas” (2022). Através dessas obras, o artista compartilhou sua jornada, ora amarga, ora suave, em busca do amor.
Neste último álbum, percebemos uma narrativa profundamente centrada no eu e uma visão mais madura sobre o amor. Além disso, o artista revisita memórias profundas de sua vida, conforme já havia compartilhado em suas redes sociais.
Somos introduzidos à poesia na faixa “Doce“, onde Rico expressa: “Meu grande passo em direção ao amor, sou eu me levando nos braços“. Essa declaração estabelece o tom do que este projeto representa, saindo de um lugar de trauma e dor. Agora, o artista percebe um lado doce do afeto, protagonizado por si mesmo, em diversos momentos.
Todas as faixas constroem o renascimento da esperança, permeando os momentos de solidão de um órfão anteriormente esquecido, transformando-o em um jovem que compreende a si mesmo com suas marcas e decide se abraçar dessa maneira. Ao contrário de DDGA e Fim das Tentativas, que expressavam em seus versos a frustração com o outro e a expectativa nunca alcançada, Escuro Brilhante traz a metáfora de ser o próprio Sol Particular mesmo em momentos de escuridão.
Vemos um Rico aqui se acolhendo e se escolhendo, o que traz a ideia de buscar a si mesmo no Orfanato onde estava esquecido, à espera de alguém para resgatá-lo. No final, percebemos que ele se salva a si mesmo. As composições e poesias que Rico canta neste álbum são um resultado de cura e autodescobrimento, onde o artista explora ritmos antes esquecidos em sua carreira, como o pop, com faixas mais alegres, como “Imã” e “Sol Particular“.
Cada faixa deste álbum nos revela ainda mais a transformação de Rico e o resignificado de suas dores. Ele abraça a solitude e, apesar de mostrar sua gratidão pela comunidade nas canções, muito da sua composição fala de um caminho solitário, porém necessário para a cura, assim como ele descreve em “Sozinho“.
E ainda assim, as paixões ainda o rodeiam e complementam sua vivência. O amadurecimento nessas relações pode ser observado nos versos de “Quebrados”, em parceria com Liniker, que desacelera o álbum, mostrando a beleza de amar uma pessoa em sua totalidade, incluindo suas cicatrizes, afinal, são elas que moldam a individualidade.
O projeto contou com a produção do parceiro de longa data de Rico Dalasam, Dinho, além de LR Beats, Mahal Pita e Chibatinha. Ele é finalizado com a faixa “Paixão Nova“, que se conecta com a primeira poesia. Nela, vemos Dalasam vivendo as paixões da vida com um novo olhar mais leve e polido.
Podemos dizer que “Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga” nos traz o retrato de alguém carregado de cicatrizes, mas que amadureceu e enxerga uma nova esperança no futuro, como retratado em “Espero Ainda“. Esta obra ilustra as incertezas que cercam nosso crescimento e amadurecimento, juntamente com a escolha de se escolher e acreditar na pureza desse sentimento que é o amor.